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terça-feira, 7 de agosto de 2012

SOTERIOLOGIA (A DOUTRINA DA SALVAÇÃO)


SOTERIOLOGIA
(A DOUTRINA DA SALVAÇÃO)


Salvação é um termo inclusivo que abrange dentro do seu escopo muitos aspectos. Por exemplo, há salvação no passado, no presente e para o futuro, ou seja, salvação da penalidade, do poder e da presença do pecado. Há a salvação do espirito na regeneração, da alma na santificação, e do corpo na gloriticação. Incluídas nestes diversos aspectos encontram-se as doutrinas que, em conjunto, constituem o que na teologia se chama de soteriologia, assunto em foco neste capítulo.
Abordaremos agora os principais pontos desta tão importante doutrina para nós cristãos.


Capítulo 1
O ARREPENDIMENTO
O arrependimento é o primeiro aspecto da experiência inicial da salvação experimentada pelo crente, experiência esta que é chamada conversão. A conversão é uma parte essencial e uma prova de regeneração. A regeneração é a obra de Deus no íntimo e a conversão é a exteriorização da salvação, por parte do homem, através do arrependimento e da fé. O arrependimento tem muito de negativo e diz respeito ao pecado em seus muitos aspectos e formas, especialmente ao pecado da incredulidade.

1.1. Sua Importância Demonstrada
1.1.1. Nos Ministérios primitivos do Novo Testamento.
(1) João. Mt 3.1,2. “Naqueles dias apareceu João Batista pregando no deserto da Judéia, e dizia: Arrependeivos porque está próximo o reino dos céus”.
(2) Jesus. Mt 4.17. “Daí por diante passou Jesus a pregar e a dizer: arrependei-vos, porque está próximo o reino dos céus”.
(3) Os doze. Mc 6.12. “Então, saindo deles, pregavam ao povo que se arrependessem”.

1.1.2.         Na comissão de Cristo, após sua ressurreição.
“E que em seu nome se pregasse arrependimento para remissão de pecados, a todas as nações, começando de Jerusalém”. Lc 24.47

1.1.3. Nos ministérios posteriores do Novo Testamento.
(1) Pedro. At 2.38. “Respondeu-lhes Pedro: Arrependei-vos, e cada um de vós seja batizado em nome de Jesus Cristo para remissão dos vossos pecados, e recebereis o dom do Espírito Santo”.
(2) Paulo. At 26.20. “Mas anunciei primeiramente aos de Damasco e em Jerusalém, por toda a região da Judéia e aos gentios, que se arrependessem e se convertessem a Deus, praticando obras dignas de arrependimento”. Cf. At l7.30; 20.21; Rm 3.25.

1.1.4. Na expressão do desejo e da vontade de Deus para com todos os homens.
Não retarda o Senhor a sua promessa, como alguns a julgam demorada; pelo contrário, ele é longânimo para convosco, não querendo que nenhum pereça, senão que todos cheguem ao arrependimento.”  2 Pedro 3.9. Cf. At 17.30

1.1.5. Seu papel na salvação do homem
“Não eram eu vo-lo afirmo: se porém, não vos arrependerdes, todos igualmente perecereis.” Lc 13.3. Cf. Tiago 5.20.

A importãcia do arrependimento verifica-se pelo lugar que ocupa e pela ênfase que lhe é dada, na revelação divina.

1.2. Seu Significado

1.2.1.   No tocante ao intelecto
O arrependimento é uma mudança de pensamento ou de ponto de vista no tocante à nossa obrigação para com a vontade e a palavra de Deus. Mt 21.30. “Respondeu: Não quero; depois arrependido, foi”. Cf. Lc 15.18; 18.13.
A palavra traduzida aqui “arrependimento” significa mudança de pensamento, de propósito, isto é, de pontos de vista referentes à matéria; significa possuir outra atitude mental a respeito de algo; é uma revolução de pensamento a respeito de nossos pontos de vista e atitudes. Pedro exortou aos judeus a mudarem de pensamento e de pontos de vista a respeito de Cristo, e a expressarem essa mudança recebendo o batismo (At 2.36-40).
“A palavra da qual ‘arrependimento’ é a tradução tem no Novo Testamento, como sentido primário, ‘reflexão posterior’, e como sentido secundário, ‘mudança de pensamentos’. É fácil compreender como sentido secundário seguiu-se a significação primária, pois em todas as épocas, a reflexão posteior tem descoberto razões para mudança de pensamentos”. PENDLETON.

1.2.2.   No tocante às emoções
No arrependimento abrange dois elemenios essenciais:

(1) Ódio ao pecado
“Vós, que amais o Senhor, detestai o mal: ele guarda a alma dos santos, livra-os das mãos dos ímpios.” (Sl 97.10).
Esse é um dos fatores essenciais do arrependimento. É inseparável da mudança de pensamentos já referida, pois essa mudança de pensamentos se da à luz do pecado, porque o pecado é visto como grande mal. Considerado sob essa luz, torna-se objeto de repugnância. Nesse ponto, coincidem o Arrependimento e a Regeneração; o ódio ao pecado se encontra entre os impulsos primários da regeneração; e não pode ser abstraído do arrependimento sem alterar seu caráter. O pecador arrependido odeia o pecado e os pecados dos quais se arrepende; o pecado que é depravação ou corrupção da natureza, e os pecados, que são as transgressões incitadas pela natureza pecaminosa. O pecado não é realmente odiado enquanto não é odiado em todas as suas formas: em suas operações externas e suas manifestações externas. O pecado é aquela cousa abominável que Deus aborrece e odeia, torna-se o objeto de ódio do pecador arrependido.” PENDLETON.

(2) Tristeza por causa do pecado.
Agora me alegro, não porque fostes contristados, mas porque fostes contristados para arrependimento; pois fostes contristados segundo Deus, para que de nossa parte nenhum dano sofrêsseis.” (2Co 7.9), cf  Sl 38.18.
“Isso acompanha o ódio ao pecado. Aquele que se arrepende odeia os pecados pelos quais se       entristece, e se entristece por causa do pecado que odeia. Esse ódio e essa tristeza são recíprocos. De fato, cada qual pode ser reputado tanto o efeito como a causa do outro, tão íntima é sua relação.” (Mt 11.20,21).
O remorso é tristeza em vista das consequências do pecado, mas o arrependimento condena o pecado que produziu tais consequências. Lágrimas estão nos olhos do arrependido, confissão em seus lábios, o pensamento de Deus sobre o pecado em seus pensamentos, o afastamento do pecado é seu caminho, a contrição se apossa de seu coração, o apossar-se de Cristo se encontra em suas mãos, e a humildade de maneiras se acha em sua atitude.

1.2.3. No tocante à vontade.
O arrependimento importa na formação de um novo propósito relativo ao pecado e à vontade de Deus.
“Levantar-me-ei e irei ter com meu pai e lhe direi: Pai, pequei contra o céu e diante de ti; já não sou digno de ser chamado teu filho; trata-me como um dos teus trabalhadores. E, levantando-se, foi para seu pai. Vinha ele ainda longe, quando seu pai o avistou e, compadecido dele, correndo, o abraçou e o beijou.” (Lc 15.18-20), cf Mt 21.29; 1Ts 1.19.
A vontade do homem, à semelhança de suas emoções, está intimamente relacionada com seu intelecto e ligada a ele, e o exercício voluntário de uma está envolvido no exercício de outra. Isto é verdade em relação ao arrependimento. Uma autêntica mudança de pensamento para com Deus e o pecado, também requer um verdadeiro propósito a respeito deles.
O arrependimento pode ser definido como mudança de pensamento para com o pecado e para com a vontade de Deus, o que conduz uma transformação de sentimento e de propósito a seu respeito.

1.3. Sua Manisfestação
O arrependimento é uma atuação interna da alma, mas tem sua expressão externa, isto é, sua manifestação. O arrependimento torna-se manifesto:

1.3.1. Na confissão de pecado.

(a)   A Deus.
“Enquanto calei meus pecados, envelheceram-se os meus ossos pelos meus constantes gemidos todo o dia. Porque a tua mão pesava dia e noite sobre mim; e o meu vigor se tornou em sequidão de estio. Confessei-te o meu pecado e a minha iniquidade não mais ocultei. Disse: Confessei ao Senhor as minhas transgressões; e tu perdoaste a iniquidade do meu pecado.”  Sl 32.3-5 cf. Sl 38.18; Lc 18.13; 15.21.
“Todo pecado é cometido contra Deus, contra Sua natureza, Sua vontade, Sua autoridade, Sua lei, Sua Justiça e Sua bondade; e o mal do pecado está principalmente no fato de que é oposição a Deus e desarmonia com o Seu caráter. O mal do pecado, cometido contra Deus, é o elemento que dá ao verdadeiro penitente uma ansiedade e uma preocupação especiais. Ele justifica a Deus e condena a si mesmo”. PENDLETON.

(b)   Ao homem.
Também deve haver confissão de pecado ao homem, visto que o homem recebe dano do nosso pecado, e por causa do mesmo.
“Confessai, pois, os vossos pecados uns aos outros, e orai uns pelos outros, para serdes curados. Muito pode, por sua eficácia, a súplica do justo. Tg 5. 6; cf. Mt 5.23,24; Lc 19.8,9.
A confissão feita ao homem deve ser tão pública como o erro cometido contra ele. Caso tenha sido um erro público, que tenha danificado sua reputação e lhe tenha furtado sua posição entre os homens, a confissão também deveria ser aberta e pública. Se for possível corrigir o erro que tiver sido cometido, nenhum meio deveria ser deixado de lado para realizar este ato. A restituição deve seguir-se ao arrependimento.

1.3.2. No abandono do pecado.
“O que encobre as suas transgressões, jamais prosperará; mas o que as confessa e deixa, alcançará misericórdia.” Pv 28.13; cf. Is 55.7; Mt 3.8, l0; lTs 1.9; At 26.l8.
Quando o arrependimento é genuino, os homens se voltam das trevas para a luz, e do poder de Satanás para Deus; abandonam aquilo que Deus perdoa, e renunciam aquilo que Ele remite.
A confissão do pecado e do erro, juntamente com a reparação devida pelos mesmos, quando possível, é a expressão externa do ato interno do arrependimento.

1.4. Seu Modo.
1.4.1.   Pelo lado divino; outorgado por Deus.
“E, ouvindo eles estas cousas, apaziguaram-se e glorificaram a Deus, dizendo: Logo, também aos gentios foi por Deus concedido o arrependimento para a vida.” At 11.18; cf.  2Tm 2.24, 25; At 5.30,31; 3.26.
O arrependimento não é algo que o homem possa originar dentro de si mesmo, ou possa produzir por si mesmo. É dom divino, resultado da graciosa operação de Deus na alma do homem, devido à qual ele se dispõe a essa mudança; Deus é quem lhe concede o arrependimento.

1.4.2. Pelo lado humano: realizado através de meios.

a) Por meio do ministério da Palavra.
“Ouvindo eles estas coisas, compungiu-se-lhes o coração e perguntaram a Pedro e aos demais apóstolos: Que faremos, irmãos? Respondeu-lhes Pedro: Arrependei-vos, e cada um de vós seja batizado em nome de Jesus Cristo para remissão de vossos pecados, e recebereis o dom do Espírito Santo... Então os que lhes aceitaram a palavra foram batizados; havendo um acréscimo naquele dia de quase três mil pessoas. At 2.37, 38, 41; cf. 2Tm 2.24,25; At 26.l9, 20; Gl 6.1; 1Ts 1.5, 6, 9, 10.
O próprio evangelho que exorta ao arrependimento é que o produz. Isso é admiravelmente ilustrado na experiência do povo de Nínive (Jonas 3.5-10). Quando ouviram a pregação da palavra de Deus por Jonas, creram na mensagem e abandonaram sua iniquidade. Não qualquer mensagem, mas o Evangelho, é o instrumento que Deus usa para produzir esta finalidade desejada. Além disso, a mensagem precisa ser pregada no poder do Espírito Santo (1Ts 1.5-9).

(b) Por meio da benignidade de Deus.

Ou desprezas a riqueza da sua bondade, e tolerância, e longanimidade, ignorando que a bondade de Deus é que te conduz ao arrependimento?” Rm 2.4; cf. Lc 6.35; Ef 4.32; lPe 2.3.
O propósito de toda a bondade de Deus, em seus tratos com os homens, tem em vista dissuadi-los de prosseguir no caminho do pecado e conduzi-los à vida de justiça.

(c) Por meio de repreensão e castigo.
“Eu repreendo e disciplino a quantos amo. Sê, pois, zeloso, e arrepende-te.” Ap 3.19; cf. Hb 12.6, 10, 11.
O propósito de toda a severidade de Deus em Seu trato com os homens tem em vista produzir neles os frutos pacíficos da retidão através do verdadeiro arrependimento.

(d) Por meio da tristeza segundo Deus.
“Porquanto ainda que vos tenha contristado com a carta, não me arrependo; embora já me tenha arrependido (vejo que aquela carta vos contristou por breve tempo), agora eu me alegro, não porque fostes contristados, mas porque fostes contristados para o arrependimento; pois fostes contristados segundo Deus, para que de vossa parte nenhum dano sofrêsseis. Porque a tristeza segundo Deus produz arrependimento para a salvação que a ninguém traz pesar; mas a tristeza do mundo produz morte. Porque, quanto cuidado não produziu isto mesmo em vós que segundo Deus fostes contristados; que defesa, que indignação, que temor, que saudades, que zelo, que vindita! Em tudo destes prova de estardes inocentes neste assunto.” 2Co 7.8-11.
Deus tem motivos benevolentes em toda tristeza que Ele permite venha sobre as vidas, tanto de Seus filhos como de outros, e esse motivo é levá-los ao arrependimento.

(e) Por meio de percepção da santidade de Deus.
Eu te conhecia só de ouvir, mas agora os meus olhos te vêem. Por isso me abomino, e me arrependo no pó e na cinza.” Jó 42.5, 6.
O senso experimental da santidade de Deus produz um senso pessoal de pecado, o que é elemento essencial do arrependimento.
O arrependimento é um dom de Deus, proporcionado por meio de várias instrumentalidades.

1.5. Seus Resultados.
Uma vez que o arrependimento e a fé são inseparáveis, seus resultados dificilmente podem ser identificados separadamente. Certos resultados, no entanto, são atribuídos nas Escrituras ao arrependimento.

1.5.1. Alegria no céu.
Digo-vos que assim haverá maior júbilo no céu por um pecador que se arrepende, do que por noventa e nove justos que não necessitam de arrependimento... Eu vos afirmo que, de igual modo, há júbilo diante dos anjos de Deus por um pecador que se arrepende.”  Lc 15.7-10; cf. 2Pe 3.9.
Há alegria na presença dos anjos de Deus, tanto quanto em Seu próprio coração, pelo arrependimento dos pecadores.

1.5.2.   Perdão.
Deixe o perverso o seu caminho, o iníquo os seus pensamentos; converta-se ao Senhor, que se compadecerá dele. E volte-se para o nosso Deus, porque é rico em perdoar.” Is 55.7; cf. Lc 24.47; Mc 1.4; At 2.38; 3.19.
O arrependimento habilita-nos para a recepção do perdão, ainda que não nos dê esse direito. Somente o sangue de Cristo é que pode fazer isso.

1.5.3.      Recepção do Espírito Santo.
“Respondeu-lhes Pedro: Arrependei-vos, e cada um de vós seja batizado em nome de Jesus Cristo para a remissão dos vossos pecados, e recebereis o dom do Espírito Santo.” At 2.38; cf. Ef 1.13.
O arrependimento faz parte essencial do requisito subjetivo que visa à outorga do Espírito Santo. É justamente isso que põe a alma em atitude receptiva.
O pecador arrependido alegra o céu, recebe o perdão e o selo do Espírito Santo.

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